"Yeolsimhi
haeyo", dizem os coreanos. Trabalho duro. A frase é dita sem
parar e serve tanto de lema quanto para lembrar que ninguém gosta de
quem resmunga. E não importa o quão duro um aluno esteja estudando,
ele sempre pode estudar mais –pelo menos essa é a teoria.
Afinal,
a própria nação foi construída após décadas de colonização
japonesa e da guerra coreana por meio de trabalho duro. A Coreia do
Sul tornou-se modelo de crescimento econômico e sediou os Jogos
Olímpicos e a Copa do Mundo, um feito batizado de “milagre do rio
Han”.
Toda
manhã, por bem mais de 200 dias por ano, os alunos chegavam à
escola de elite sul-coreana onde eu ensinava inglês às 7h40. Os
professores e tutores estudantis os esperavam na entrada, para
verificar seus cabelos (comprimento e estilo – permanente e tintura
eram proibidos) e uniforme (camisetas para dentro, saia na altura do
joelho e sapatos formais).
Depois,
eles subiam as escadas para suas salas, onde esfregavam o chão,
escovavam as mesas, limpavam as janelas e jogavam o lixo fora. A
jornada acadêmica começava às 8h, tinha intervalos de 10 minutos,
uma pausa para o almoço de 50 minutos e uma hora para o jantar às
17h.
Às
18h, quando eu costumava desligar meu computador, os alunos estavam
se acomodando em suas cadeiras para outras quatro horas de estudo,
durante as quais eram monitorados pelos professores para garantir que
não se entregassem ao sono, às conversas ou a qualquer outra coisa
que não fosse o estudo. Às 22h20, as salas se esvaziavam.
Liberados, os jovens se dirigiam para os ônibus que estavam
esperando para levarem-nos para casa (poucos moravam perto). A maior
parte dos alunos só ia para a cama depois da meia noite. Há um
ditado que recomenda que o estudante tenha apenas quatro horas de
sono por dia se quiser entrar em uma das principais universidades.
Durante
os anos que eu ensinei nesta escola de ensino médio, fiquei ao mesmo
tempo maravilhado e horrorizado com o que a escola, os pais e o país
esperavam de seus alunos –e como estes tentavam cumprir essas
expectativas.
Algumas
vezes, quando eu saía tarde da escola –por volta de 20h ou 21h–
eu olhava para as salas e via os alunos ocupados fazendo dever ou
consultando livros. Alguns ficavam em pé no fundo da sala para
afastar o sono, todos aparentemente determinados em cumprir as
expectativas colocadas sobre eles. Mas e seus tempos de juventude?
–eu me perguntava, algumas vezes, ao descer o morro com as luzes da
escola atrás de mim.
Ao
retornar aos EUA, um antigo professor me deu uma oportunidade de
falar aos seus calouros de filosofia sobre meus anos na Ásia.
Excitado, eu redigi uma apresentação pensando nas minhas aulas na
Coreia, onde os alunos absorviam o material, algumas vezes
silenciosos demais.
Diante
de uma classe de 20 calouros universitários, a primeira coisa que eu
observei foram os aparelhos eletrônicos em quase todas as carteiras:
celulares, laptops, iPads. Mal eu tinha começado, vi um garoto
mexendo em seu telefone por baixo da carteira, outro digitando em seu
computador e um terceiro digitando no telefone à vista de todos.
“Vocês
poderiam parar?”, perguntei. Com um olhar incomodado, eles
retornaram sua atenção à discussão, mas não por muito tempo
–alguns minutos depois, já estavam distraídos novamente. As
classes subsequentes foram similares.
Mais
tarde, no escritório do professor, eu perguntei sobre o
comportamento geral dos alunos, e mencionei os coreanos.
“Quando
eu me aposentar, vou escrever um livro sobre o colapso da
universidade americana”, ele me disse. “Há pouca sede de
aprendizado, de trabalhar duro”.
“E
os aparelhos eletrônicos?”, perguntei.
“Estão
em toda parte”, respondeu, “mesmo quando são proibidos, os
jovens acabam usando”.
Uma
avaliação desesperadora, com certeza, mas o professor, que vem
ensinando há 30 anos, chegou a dizer que eu estava ali para cinco
alunos, mais ou menos. Esses –os que fazem perguntas, expressam
interesse- vão realizar grandes coisas, porque eles “se levam a
sério, e também levam o professor a sério”, disse.
Terminei
minha apresentação, atravessei em silêncio o campus de New
England, respirando o ar fresco do outono, pensando que, do outro
lado do oceano, seria por volta de 9h da manhã, os alunos estariam
sentados em suas carteiras ouvindo atentamente, trabalhando duro e,
provavelmente, levando as coisas um pouco mais a sério do que muitos
jovens nos EUA, para o bem ou para o mal.
(John
M. Rodgers é professor adjunto na Universidade Estadual de Plymouth
em New Hampshire, editor do “The Three Wise Monkeys” e do “Groove
Korea”.)
Tradutor: Deborah
Weinberg"
Fonte:
educacao.uol.com.br
Opinião:
Bem, sei que tirania escolar não é uma solução democrática. Mas
acho inadmissível o descaso escolar que temos aqui em nossas
terras tupiniquins. O ideal seria um equilíbrio, onde o aluno
estudasse e recebesse recompensa pelos estudos (como bolsas em R$,
vagas de emprego em determinadas instituições, vagas em boas
universidades e etc.). Não precisamos deste regime como o Sul
Coreano, mas precisamos urgentemente melhorar a educação do nosso
país, já que este é um pilar fundamental para o desenvolvimento da
nação.